sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Veda, Vedānta e Dharma



Antes o Veda era somente um. Com o passar do tempo Veda Vyāsa (compilador, título atribuído a vários sábios da antiguidade) dividiu-o em quatro partes: Rig, Yajur, Sama e Atharva Veda para facilitar a tradição desse conhecimento. Os Vedas são a forma de literatura mais antiga da Humanidade (mais de 4.000 anos antes da nossa era) e que formam toda a base de pensamento da tradição hindu.


Vedānta é considerado a culminação do Veda, “o maior segredo”. Na parte final de cada um dos Vedas encontram-se as Upaniśads que são denominadas de uma forma geral de Vedānta.

E qual é a importância dessa tradição Védica (ou Vaidica) nos dias de hoje?

As exigências do ser humano parece não ter mudado ao longo da sua existência. Normalmente, elas estão baseadas no dharma. Dharma significa dentre outros significados qualidade, contribuição, dever, valores universais. Originada da raiz dhr que significa sustentar.

Todos nós temos a capacidade de sentir a empatia de perceber as coisas que nos fazem bem assim como aquelas que não são boas para nós, como ser ferido, magoado, etc. Dentro do dharma devemos exercitar a empatia. Nem sempre temos que gostar de certas coisas, mas podemos aceitar atitudes quando estão dentro dos valores universais.

É importante ressaltarmos que o dharma não é absoluto, ou seja, não vale sempre, pode ser questionável. A idéia dos Vedas não é nos enquadrarmos. O objetivo principal é aprender a discriminar, analisar e realizar as nossas escolhas frente as diversas situações que a vida nos apresenta.


Contudo, sabemos exatamente o que é bom para nós, mas muitas vezes o desejo nos coloca em uma outra condição. Assim, passamos a viver uma vida de conflitos entre os nossos gostos (rāga) e aversões (dvesa).


Ao cultivarmos o dharma podemos perceber que a médio e a longo prazo isso será valioso para nós, pois estaremos em harmonia (yukta) com o que pensamos e realizamos. Devido ao dharma não ser absoluto estaremos sempre questionando as coisas. O maior dharma (objetivo) de uma pessoa é o auto-conhecimento. O que sustenta uma pessoa é aquilo que ela é (Ātma) e a forma como ela age!




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Entrevista: Amyr Klink (3/3)


Vicente Morisson: Amyr, nas Ilhas Feroe acontece, anualmente, um massacre das baleias-piloto! As pessoas não fazem isso por dinheiro e sim por uma tradição. Eles não utilizam a carne da baleia por conter alto nível de mercúrio e jogam de volta ao mar. O que você acha dessa tradição?
Amyr Klink: Tem um único porém nas Ilhas Feroe, mundialmente conhecido pois é ali que acontece aquela matança das baleias-piloto. Eu questiono essa tradição, apesar de ser uma tradição real deles. O argumento deles é que eles fazem isso há muitos anos e nunca afetou a população de baleias, que elas vem de fato para morrer na praia como ocorre na Austrália. Elas vão direto para as praias, eles não vão caçar elas em alto mar e trazer. Eles matam elas quando elas chegam nas praias e outros tantos argumentos que eles tem.


O problema é que eu acho plenamente justificável esse tipo de tradição quando você depende disso para ter um sustento. O que acontece com as Feroe, economicamente, é um arquipélago extremamente próspero. Então, não tem sentido continuar com uma tradição desse tipo. Hoje, os países se comunicam querendo ou não.


Eu pessoalmente sou contra. Eu fui ver uma matança dessas. Me chamaram para ver, o que é uma coisa muito rara, já que eles não permitem que estrangeiros assistam. Eu fui e eles ficaram muito tristes, porque só tinham 35 baleias. Só mataram 35!


VM: E como você se sentiu?
AK: Quando eu cheguei elas já tinham todas encalhadas. Eles estavam matando as baleias encalhadas. O que poderia se fazer no caso desse encalhe era usar a força por meios mecânicos que eles tem, barcos para desencalhar elas. O problema é que quando elas encalham eles matam.


VM: Mas nos vídeos que são divulgados eles cercam as baleias com vários barcos de uma forma que elas ficam completamente encurraladas e o único lugar que elas conseguem ir é para a praia. Você acha que elas vão ali para a praia para encalhar?
AK: Pode ser que sim, pode ser que não. Eles tem um histórico de caça milenar. Eles matam todas as espécies de aves que tem lá. Todas. Só que cada espécie numa determinada época para não comprometer a procriação. De uma certa maneira eles sabem administrar os recursos naturais. A gente mata as nossas vacas que a gente cria para isso. A prova que eles tem desse procedimento é que nenhuma das espécies está ameaçada. É uma postura altamente questionável hoje.




VM: Se você tem as baleias ou as vacas que são abatidas para a produção, um ser vivo tendo essa finalidade você acha que tudo bem?
AK: Olha, nem para a produção eu gosto muito. No caso de criação doméstica para produção você está criando os animais para isso. Eu não considero a baleia um animal de produção. É diferente de você estar manejando um rebanho. Você está simplesmente fazendo uma infração, você está colhendo uso da natureza. Pode ser que tecnicamente não, mas você provoca um impacto.


VM: O que você acha da ação nos mares contra a matança da baleias como o do Sea Shepherd. Você apóia esse tipo de movimento?
AK: Eu discordo totalmente. Eu acho que eles deveriam usar recursos mais inteligentes e menos espetaculares. Eu acho simplesmente uma "palhaçada" fazer esse negócio de barcos ultra-radicais, ficar cutucando as proas dos navios para ficar aparecendo na televisão. Tem muita coisa pior do que isso, como a pesca do espinhão. Esses sistemas de pesca continuam sendo vendidos e isso vai extinguir os albatrozes em menos de 5 anos. Ninguém não faz nada porque não é uma cena espetacular para a televisão.


Essas ações tipo Greenpeace, Sea Shepherd, midiáticas puramente, eu não concordo.


VM: O que você mais gosta de fazer nas horas vagas?
AK: Inventando maluquices. No ano passado resolvi estudar matemática e resolvi que eu podia fazer um globo geodésico de freqüência 6, uma freqüência bem alta e bem complexo, mas não existia uma solução mecânica para criar os conectores do jeito que eu queria. E aí eu passei quase o ano inteiro e no final eu desenvolvi um método de fazer uma geodésica perfeita de freqüência 6 com dezesseis metros de altura e foi um escândalo aqui no bairro. Uma geodésica com três mil e quatrocentas hastes de alumínio. Montei e aí foi engraçado a reação dos vizinhos.


Eles perguntavam: Mas, o que vai ser isso? Bom, é um exercício de matemática aplicada. Mas vai cobrir com o quê? Vai cobrir com nada, é uma estrutura matemática. E vai ser o quê? Não, é minha casa, vai ser nada, é para as crianças escalarem. Mas, e para que serve? Bom, não serve para nada. Aí eu reparei que incomoda tanto as pessoas você fazer alguma coisa utilitária, que eu comecei a lembrar do remador francês, Gerard d’Aboville, que atravessou o Atlântico Norte a remo 1980 em 74 dias, que quando perguntaram porque que ele fez isso e ele respondeu: "Porque o que diferencia o ser humano no bicho é o prazer pela inutilidade". E ele chocou muita gente na França, mas eu entendi bem o que ele quis dizer.


Encheram tanto o meu saco por causa desse domo, que começou a parar jornalista aqui na porta, fazerem denúncia em vários órgãos. "Ah, isso aí é uma antena que eu ouvi falar de uma sonda americana em Marte". Aí veio medidores de antena da prefeitura para medir os decibéis do ganho de emissão da antena e concluíram que a antena não estava aterrada. No final, eu acabei vendendo o domo e me arrependo amargamente.



VM: O que você considera essencial para se viver bem?
AK: Puxa vida! Eu acho que para se viver bem você tem que ter prazeres autênticos. Eu acho que tem muita gente que deixa de viver bem, porque fica construindo expectativas em relação ao que deveria ou o que gostaria de ter em vez de aproveitar o que tem. Isso é uma das coisas interessantes num barco. Você tem muitas alegrias com pouco recursos. "Ah, que pena que não dá para tomar banho de água doce, então, vai de água salgada mesmo". Quando tiver vai ser uma maravilha. Você passa a ter uma pouco mais de aceitação. Eu gosto de prazeres simples nada muito complicado.


VM: Qual é o seu maior desafio e objetivo na sua profissão hoje? Que dica você daria para quem está começando a navegar?
AK: Bom, navegar não deveria encarado como uma profissão. Eu nunca encarei como uma profissão, não é uma carreira. É uma grande futilidade e eu me tornei de certo modo conhecido por exercer uma atividade, francamente, inútil. Mas, eu acho que é uma atividade que tem um alto potencial educativo, a gente aprende sempre, o desafio é sempre renovar idéias e a gente tem sido muito feliz nisso. Quando eu faço um projeto que deu certo e imediatamente eu quero fazer qualquer coisa menos aquilo.


Percebi que esse é um lado interessante do Brasil, que a esmagadora maioria é fortemente despreparada e mal educada, mas a gente tem uma característica que é fascinante. A gente tem uma criatividade incomum e uma capacidade de comunicação, não sei porque, também é incomum. E com essas duas coisas você pode fazer muita coisa. Então, eu sou suspeito pra falar por ser brasileiro, mas a gente tem essa característica da facilidade da comunicação. Pena, que a gente não usa esse potencial de forma organizada, mas eu acho que é uma questão de tempo para isso acontecer. Está acontecendo.


O lado bacana de navegar, principalmente da vela, digamos dos esportes náuticos de baixo impacto, o lado importante é essa capacidade de aprender e aperfeiçoar o que você sabe. E a dica é começar quando a gente é pequeno. Eu não tive esse privilégio, mas eu tive a sorte de conhecer as canoinhas em Paraty. Mas, fazer uma escolinha de vela ou colocar os filhos numa escolinha de velas ainda pequenos. É uma atividade onde é inconveniente a presença dos pais, onde um moleque de 7 a 8 anos quando está num Optimist, ele tem que dominar a situação por conta própria. Não pode ter “pentelhos” de pais e mães em provas, aquela obsessão do “winner”, o vencedor, o melhor. Ele tem que entender que para ele ir de um lugar para o outro contra o vento, ele não vai numa tacada só.


A Marina fez até escondido, eu não sabia que ela tinha escondido o barco, um veleirinho Optimist, e as meninas velejaram na Antártica de Optimist, um barquinho-escola. E aí, a maior alegria que eu tive foi na volta quando elas decidiram fazer um livro. Não sabia o que falar, mas também quando você tem oito ou nove livros, não sei quantos mil exemplares e eu não pus a mão. Quando soube que elas estavam fazendo, eu falei: "Bom, agora eu vou deixar vocês sofrerem com o livro".


O primeiro sofrimento vai ser colocar no papel que é difícil, segundo vai ser transformar um monte de papel num livro e terceiro vai ser conseguir achar um editor. A Marina está com dois livros prontos lindos de morrer e está tendo uma enorme dificuldade para conseguir uma editora. O livro dela é um guia da Antártica muito interessante, ela conhece tudo hoje sobre visitação na Antártica, lugares, áreas de preservação, fez um apanhado completo disso. Nem inglês, nem em francês tem nada similar hoje. Mas, ela tem dificuldade de conseguir um editor que trate bem o livro. E as meninas já passaram por esse processo. Elas sentiram como é duro.


Eu levava elas quando pequenininhas para ver como se faz um livro, ir na gráfica, ver as Heidelbergs trabalhando, ver os problemas da impressão. É um produto terrível, porque é um produto que está sempre ineficiente. Você faz uma tiragem de 5.000 e se vender a metade está ótimo. A outra metade, infelizmente, morre pelo caminho. Eu achei muito bacaninha a experiência delas de livro. Ficou bacana, tanto que o livro é infantil, mas é sério, elas falam de foquinha, gaivotinha...



Mais informações sobre Amyr Klink - www.amyrklink.com.br

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Oceanos


Depois de quatro anos de filmagens em mais de cinquenta locações diferentes, chega aos cinemas o documentário Oceanos, assinado pelos diretores Jacques Perrin e Jacques Cluzaud.

Cerca de três quartos da superfície terrestre é coberta por água. Então, por que não mostrar o que acontece neste ambiente? Utilizando uma avançada tecnologia de filmagem subaquática, a equipe mergulhou fundo para desvendar os mistérios e as imagens de rara beleza escondidas na água.

As filmagens percorrem os oceanos do mundo, apresentando a vida de incríveis criaturas e os perigos que as cercam; tudo revelado de uma forma única na história.