A Karol trará aqui algumas curiosidades sobre a sua vida dentro e fora d´água.
Vicente Morisson: Quando você se interessou pelo mergulho em apnéia?
Karol Meyer: Como prática de lazer, que eu considero o verdadeiro mergulho, desde pequena. De forma competitiva, há 13 anos.
VM: Qual é o tipo de mergulho em apnéia que você prefere?
KM: Tenho preferência pelas modalidades que envolvem maiores profundidades (Lastro variável e No Limits) e a apnéia estática.
VM: Sabemos que além de praticar Yoga você também é formada em instrutor de Yoga. O que lhe fez procurar essa prática?
KM: Desde pequena sempre tive grande atração pelo mar... E foi através deste mar, da busca por melhores performances para a prática de um esporte considerado de alto risco, que eu encontrei o Yoga... Comecei a praticar até que encontrei o Yogashala (SC), na época realizei aulas com Pedro Kupfer e a Camila Reitz e foi quando eu realmente comecei a perceber a dimensão do Yoga.
VM: Algo modificou desde quando você começou a praticar? O quê?
KM: Minha flexibilidade, postura, a própria respiração melhoraram muito. No plano mental meus pensamentos se tornaram mais estáveis. Aprendi a ser mais tolerante e flexível. Conheci pessoas que admiro e que, com o seu trabalho voltado para o Yoga, orientam, ensinam e desenvolvem uma atmosfera de paz por onde passam. Isto me motiva, me dá energia e disposição para encarar os desafios dentro e fora da água.
VM: No que a prática de Yoga ajuda você no mergulho em apnéia?
KM: O Yoga me possibilita uma melhor compreensão do meu próprio corpo, a consciência corporal. Através dela eu consigo adotar uma postura correta na água, aumentando o meu hidrodinamismo, reduzindo esforço desnecessário e economizando o oxigênio para uma melhor performance. Esta consciência corporal, aliada à uma capacidade de relaxamento profunda, também favorece a manobra da compensação dos ouvidos em grandes profundidades.A flexibilidade e postura favorecem uma ventilação eficiente e uma maior capacidade pulmonar no momento da última e máxima inspiração. Tanto o prānāyāma, como kriyas (especificamente o Rajas Uddiyana Bandha) e āsanas que demandam uma ventilação controlada são excelentes exercícios para o diafragma, aumentando a sua curvatura, e gerando um ganho de capacitadade vital pulmonar. Ou seja, com um maior volume pulmonar eu conseguirei conquistar maiores profundidades ou permancer por maior tempo submersa. Há um verdadeiro domínio da inquietude mental e também no plano emocional, assim consigo manter a paz e serenidade necessárias para um bom mergulho, para uma tentativa de recorde ou competição, onde sempre aparecem dúvidas, momentos de stress no planejamento do mergulho, ou situações em que eu e o grupo temos que contornar, momentos difíceis a ultrapassar, para tudo isto é necessário manter a serenidade e o foco. Os exercícios de prānāyāma e de meditação também melhoram o metabolismo do nosso organismo, auxiliando de forma poderosa na recuperação do corpo, na resistência à doenças e revigoramento das funções de vários órgãos. Isto me permite encarar dias de treinamentos em profundidade com maior vigor.
KM: Sim. Prefiro o Ujjayi e o Kūmbhaka bandha prānāyāma. Eles me ajudam: a purifica os nadis (canais do corpo sutil por onde flui a força vital); reestabelecer o equilíbrio energético; propiciar um estado de atenção e foco, atuar no controle do sistema nervoso autônomo, das emoções e dos pensamentos (chittavritti), garantindo um menor consumo de oxigênio pelo cérebro (que sozinho é responsável por aproximadamente 25%); permitir uma melhor resposta à alterações emocionais negativas e resistência as reações orgânicas do stress.
VM: A meditação faz parte da sua prática? Caso sim, que tipo de meditação você pratica?
KM: Sim. Procuro praticar antes do treinamento e em casa sempre que possível. Também procuro passar para meus alunos nos cursos de mergulho. As técnicas que pratico é o foco na respiração (So Ham) e em mantras, como por exemplo: o gayatri.
VM: Você já enfrentou alguma situação de risco debaixo d´água? Caso sim, como lidou com ela?
KM: Várias... mas o planejamento do mergulho, a equipe treinada, o meu treinamento físico e mental, me ajudaram muito. Lembro-me de um acidente onde bati com a cabeça numa pedra, à 50 metros de profundidade, mas não me apavorei, simplesmente disse mentalmente: "calma, vire, comece a subir", e fui subindo sempre falando comigo mesma “calma, segura, confiante” e o que poderia ser uma tragédia, se tornou um mergulho tranqüilo e sem acidentes. Quando contei para todos o que aconteceu, ninquém acreditou.
VM: Você leva algum tipo de experiência do mar para o seu dia-a-dia? Qual (is)?
KM: Sempre... A primeira delas é viver em harmonia, coisa que o ser “humano” ainda não conseguiu... Debaixo da água há um equilíbrio natural. Fora da água há um desequilíbrio causado pelo próprio homem. Outra lição é a de que não podemos controlar tudo. As mudanças acontecem sempre e é preciso se adaptar à elas. Um dia o mar está revolto, outro está frio demais, outro está escuro, a pressão da água enfim são diferentes situações que te colocam à prova, condições sob as quais temos que praticar habilidades como: aceitar que determinadas situações que não podemos mudar (kshanti). Aceitar certas condições para poder evoluir, sempre em parceria com o mar, não contra o mar. Como dizia um amigo francês: "a apnéia é uma vitória do espírito sobre o corpo, da vontade sobre a necessidade. Ter coragem para mudar". Tive que alterar planos e treinos, reaprender a respirar, recuar para enfim chegar nos recordes mundiais.
VM: Quem são as suas grandes referências no mar e fora dele?
KM: No mar, eu sou apaixonada pelos seus seres: baleias, tartarugas de couro e meros. Fora da água Ayrton Senna e atletas do esporte que pratico, cresci vendo e lendo sobre Enzo Maiorca, Jacques Mayol, Umberto Pelizari, Audrey Mestre, Débora Andollo, Patrick Musimu. No Yoga, Paramahansa Yogananda e BKS Iyengar (este vídeo dele é incrível).
Mais próximo de mim, todos professores através dos quais tive o privilégio de aprender o Yoga.
VM: Qual é a sua preferência alimentar? Você faz algum tipo de acompanhamento nutricional?
KM: 75% é de carboidratos em geral. Frutas, pães, massas, cereais e saladas ... Faço acompanhamento com médico endocrinologista, controle das vitaminas e minerais através de exames rotineiros.
VM: De uma maneira geral, já que você viaja bastante devido a sua profissão, como você vê a relação do homem e o mar hoje em dia? Mudou muita coisa?
KM: As coisas estão piorando cada vez mais, o lixo, a poluição, a pesca predatória, a utilização dos recursos de forma não sustentável, estão acabando com o fundo do mar.... Mas hoje em dia temos muitas pessoas levantando a bandeira da necessidade de proteção dos mares e agindo. Entretanto, acredito que além da conscientização, que é um processo lentro, ainda é pouca a fiscalização, mas ainda há tempo para fazermos algo para reverter a situação. Segue entrevista especial com Dra Sylvia Earle.
VM: Qual o lugar mais especial que você já mergulhou?
KM: Cada local possui suas singularidades, seria difícil destacar somente um, por isto segue o rol: Bonaire – Antilha Holandesa no Caribe, Mar Vermelho - Egito, Fernando de Noronha e Lago Azul - Brasil, Saint Jean Cap Ferrat – França.
VM: O que você mais gosta de fazer nas horas vagas?
KM: Eu adoro outros esportes, então se sobra um tempo e eu posso praticar sem arriscar os treinos de apnéia, eu me mando... bike, corrida, surf. Se não, sossego mesmo e leio um livro interessante, escuto uma boa música e tomo uma taça de vinho tinto.
VM: Você atua em alguma causa em defesa ao meio ambiente? Caso sim, qual (is)?
KM: Procuro ajudar de diversas formas. Recentemente doei uma roupa para leilão do "Brechó Social" sendo os recursos destinados para a ONG SeaShepherd. Sou madrinha do Projeto Baleia Franca e também atuo junto à ONG Ilhas do Brasil, com curso de mergulho gratuito para os filhos de pescadores artesanais em Florianópolis.
VM: Qual é o seu maior desafio e objetivo no mergulho em apnéia hoje?
KM: Na água, continuar avançando em profundidade e ter mais tempo e apoio para fazer os meus “freediving adventures” que são mergulhos de aventura (sem ter que ficar medindo o tempo ou a profundidade, simplesmente mergulhando nos locais mais belos, com as mais belas criaturas). Desejo, ao mesmo tempo, desenvolver sistemas de segurança eficientes. No mergulho livre é tudo muito pouco difundido, até mesmo os acidentes não são divulgados como deveriam, não há muita pesquisa nesta área, cada um desenvolve a sua própria máquina e treina sua equipe de segurança. Nada está pronto, tudo tem que ser estudado, treinado, é preciso uma equipe composta por mergulhadores scuba técnicos e habilitados para descer em profundidade e fazer a segurança. Fora da água, mergulhar na busca pelo autoconhecimento, através do Yoga.
VM: Como você trabalha a sua espiritualidade?
KM: Acredito na força da oração, nos mantras, em leituras assim como tenho muito interesse pelo espiritismo, já participei também de eventos Brahma Kumaris de Raja Yoga, enfim tenho uma curiosidade enorme por tudo que envolve o tema. Seguindo as palavras de Dalai Lama: “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”. Visto desta forma acredito que o Yoga também é um caminho para a espiritualidade, incorporando os Yamas e Niyamas em nossas vidas, assim como a meditação. Também procuro dar minha participação àqueles que destinam suas vidas para salvar vidas de pessoas em extremo estado de miserabilidade, os médicos da entidade “Médicins sans frontières” e ajudar aqueles que posso ao meu redor.
VM: Qual significado do mar para você?
KM: Mar significa encontro com a natureza, com a paz. Dos meus melhores mergulhos trago a imagem do azul profundo, sem fim, ao mesmo tempo que percebo um silêncio que me conforta, o ego se dissolve, é como se seu fosse um simples pontinho no azul, mas que, ao mesmo tempo, presencia uma imensa sensação de plenitude, por saber que faço parte deste mundo maravilhoso, desta energia superior que cria e ordena tudo.
VM: O que você considera essencial para se viver bem?
KM: Buscar sempre pelo equilíbrio na vida, pela saúde física, mental e espiritual “sattva guna”.
VM: Que dica você daria para quem está começando a mergulhar?
KM: O "mergulho livre" ou mergulho de apnéia é um esporte de aventura e também de risco, sendo importante lembrar que não ficamos no fundo do mar sem treinamento e regras de segurança! É muito importante que os apaixonados pela água busquem por cursos de formação e sempre treinem ou mergulhem respeitando regras básicas, tais como:
* jamais praticar sozinho,
* estabelecer sinais de segurança com a pessoa que estará supervisionando,
* estar apto para resgate,
* treinar, estar apto para mergulhar,
* não exceder aos seus limites, escutar o seu corpo,
* utilizar material adequado, dentre eles uma boa roupa de neoprene para proteção e manutenção do calor corporal, de preferência de cores como amarelo, branco, laranja, vibrantes, que facilitem a sua visualização na água,
* cuidar da sua saúde em geral (alimentação, hidratação e repouso adequados),
* buscar pelos benefícios da prática do Pilates e do Yoga para o seu desempenho no mundo subaquático.
Mais infomações sobre Karol Meyer - www.karolmeyer.com
que maravilha de blog, moro em floripa e gostaria de entrar en contato, obrigado!
ResponderExcluirLinda entrevista com a Karol ,adorei as respostas . Uma pessoa incrível
ResponderExcluirParabéns
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