Surf, um esporte real, por Jack London
do livro The Cruise of the Snark, de 1911
É isso o que ele é: um esporte real para os reis naturais da terra. A grama cresce até o limite da água na praia de Waikiki, a cinqüenta pés do mar eterno. As árvores também crescem até o limite salgado das coisas, e a gente senta à sombra delas olhando para o mar, a majestosa arrebentação que troveja até nossos próprios pés. Meia milha afora, onde fica a bancada, os cumes de cabeças brancas se elevam subitamente em direção ao céu, surgindo da placidez azul-turquesa e vêm rodando até a costa. Um depois do outro eles vêm, com uma milha de extensão, com cristas fumegantes, os batalhões brancos do exército infinito do mar. E a gente sente e escuta o perpétuo rugir, e olha para a infinita procissão, e se sente pequeno e frágil perante este tremenda força que se expressa na forma de fúria, e espuma, e som. De fato, sentimo-nos microscopicamente pequenos, e o pensamento de que possamos lutar com este mar faz surgir na nossa imaginação um sentimento de apreensão, quase de medo. Por que, eles têm uma milha de extensão, esses monstros com bocas de touro e pesam mil toneladas e arremetem contra a beira mais rapidamente do que nós podemos correr. Há chances? Não mesmo, é o veredicto do ego encolhido; e sentamos, e olhamos, e ouvimos, e pensamos que a grama e a sombra são um lugar perfeito para estar.
do livro The Cruise of the Snark, de 1911
É isso o que ele é: um esporte real para os reis naturais da terra. A grama cresce até o limite da água na praia de Waikiki, a cinqüenta pés do mar eterno. As árvores também crescem até o limite salgado das coisas, e a gente senta à sombra delas olhando para o mar, a majestosa arrebentação que troveja até nossos próprios pés. Meia milha afora, onde fica a bancada, os cumes de cabeças brancas se elevam subitamente em direção ao céu, surgindo da placidez azul-turquesa e vêm rodando até a costa. Um depois do outro eles vêm, com uma milha de extensão, com cristas fumegantes, os batalhões brancos do exército infinito do mar. E a gente sente e escuta o perpétuo rugir, e olha para a infinita procissão, e se sente pequeno e frágil perante este tremenda força que se expressa na forma de fúria, e espuma, e som. De fato, sentimo-nos microscopicamente pequenos, e o pensamento de que possamos lutar com este mar faz surgir na nossa imaginação um sentimento de apreensão, quase de medo. Por que, eles têm uma milha de extensão, esses monstros com bocas de touro e pesam mil toneladas e arremetem contra a beira mais rapidamente do que nós podemos correr. Há chances? Não mesmo, é o veredicto do ego encolhido; e sentamos, e olhamos, e ouvimos, e pensamos que a grama e a sombra são um lugar perfeito para estar.
E, de repente, lá fora, onde uma grande onda fumegante se eleva em direção ao céu, levantando-se como um deus do mar do redemoinho de espuma e do branco batido, no topo, equilibrando-se e descendo no limite de uma crista, aparece a cabeça escura de um homem. Subitamente, ele se eleva sobre o branco que ruge. Seus ombros negros, seu peito, suas pernas e braços – tudo é abruptamente projetado à nossa visão. Ali, onde um momento atrás havia apenas uma larga desolação e um rugir invencível, há agora um homem, ereto, completamente em pé, não se digladiando caoticamente no movimento selvagem, não apenas enterrado e esmagado e esbofeteado por esses poderosos monstros, mas parando-se sobre todos eles, calmo e poderoso, firme no cume instável, seus pés enterrados na espuma movediça, a espuma de sal elevando-se até seus joelhos e o resto do seu corpo no ar livre, refulgindo na luz do Sol, e ele está voando pelo ar, voando adiante, voando rapidamente, como a prancha em que se apóia. Ele é um Mercúrio, um Mercúrio Moreno. Seus calcanhares são alados, e neles está a celeridade do mar. Em verdade, ele saltou desde trás do mar, e cavalga a onda que ruge e ressoa, e que não consegue se livrar dele. Mas, ele não está se equilibrando freneticamente. Ele está impassível, imóvel como uma escultura entalhada subitamente por algum milagre das profundezas do oceano onde se elevou. E, reto em direção à beira ele voa nos seus calcanhares alados e nas cristas brancas da onda. Há uma explosão selvagem de espuma, um longo e tumultuoso ruído enquanto a onda se derruba na praia aos nossos pés; e aí, aos nossos pés, calmamente chega à beira um Kanaka, como um bronze dourado e moreno pelo sol tropical. Alguns minutos atrás, ele era um ponto a um quarto de milha de distância. Ele “dominou a arrebentação da boca do touro” e cavalgou nela, e o orgulho da façanha é visível em seu magnífico corpo enquanto olha distraidamente para nós, refugiados à sombra da beira.
Tradução feita por Pedro Kupfer, instrutor de Yoga (SC) e surfista - http://www.yoga.pro.br/
Tradução feita por Pedro Kupfer, instrutor de Yoga (SC) e surfista - http://www.yoga.pro.br/
Recebi este texto do Pedrão também! Com certeza um dos mais lindos que já li sobre o surf!
ResponderExcluirGraças a Deus sou surfista!!!
Ah, lembro daquele nosso surf lá na tua casa!!
Que ondas boas que surfamos hein!!!
Abração Vicce!!!
Muito legal o texto Viccé. Infelizmente hj o surf se tornou algo tão popular que quase perde sua essência. Para nós que gostamos do mar não podemos deixar isso acontecer. No line up, nosso dever é resgatar esse sentimento para mostrarmos aos que estão chegando agora. Respeito e devoção é o mínimo que o oceano mercece através do surf... Abraço
ResponderExcluirEdu Ramenzoni