sábado, 24 de julho de 2010

My friend is...




My friend Is... é um vídeo feito para divulgar o primoroso documentário de Louie Psihoyos e O’Barry Richard, The Cove (A Enseada), que foi premiado como Melhor Longa-Metragem no Oscar e no Festival de Sundance de 2009. Nesse vídeo acima, artistas famosos apóiam a causa contra a matança indiscriminada e brutal de golfinhos na cidade litorânea do Japão, Taiji. Assim como a caça ilegal de baleias, o Japão alega que esse tipo de prática é justificado por motivos científicos ora baseados em uma tradição.

Trailer "The Cove"



O trailer abaixo... Black Fish... se refere ao documentário que desvenda como a mega indústria do entretenimento SeaWorld maltrata as baleias orcas sem qualquer tipo de escrúpulo. Sim, nós seres humanos somos os autores dessas barbáries e isso é somente uma pequena parte do que chega até nós!

Trailer "Black Fish"




Mas, o que difere um animal do outro? O que nos torna “superiores” para termos esse tipo de comportamento? Será que necessitamos matar animais para sobreviver? Será que existe um animal que merece ser poupado e outro não? Será que os animais estão aí para nos servir? Será que devemos parar de matar os animais somente porque alguns deles estão em extinção? O que ganhamos e perdemos com tudo isso? 


Primeiramente, todo ser vivo é passível de sofrimento. Em qualquer situação de perigo e risco de vida qualquer animal, inclusive o ser humano, vai tentar se livrar da dor. No documentário Terráqueos vemos como os diferentes animais se comportam perante a morte, como o homem pode ser tão covarde e cruel para satisfazer os seus próprios desejos e dos demais. Muitas pessoas preferem não olhar para essa realidade como se isso as isentassem de não ser a co-patrocinadora desse sofrimento, mas quando você faz certas escolhas o seu vínculo em relação aquele resultado está traçado!


Trailer "Terráqueos" (cenas fortes!!!)





Tanto o homem como os demais seres vivos tem duas características básicas e comuns que são a necessidade por segurança (artha) e prazer (kāma). A diferença básica é que os animais buscam essas necessidades governadas pelo instintos (são programados) e o ser humano tem o poder do livre-arbítrio para realizar determinada escolha ou não. O que vai motivar o ser humano realizar determinada ação na busca por segurança e prazer são os valores que ele possui.


Os valores podem ser diferentes de pessoa para pessoa, de religião para religião, de lugar para lugar. Contudo, alguns valores são tidos como universais, ou seja, valem para todos. Saberemos muito bem quando esses valores devem funcionar para mim, mas será que sabemos quando esses mesmos valores valem para os outros?A tradição védica nos ensina que quando o indivíduo, e apenas o indivíduo, já adquiriu uma certa acomodação na sua mente em relação a busca de segurança e prazer pode ter o despertar pro uma busca mais elevada. E qual seria? Seria a necessidade por estabelecer uma maior coerência em relação aquilo que ele pensa, diz e faz. Podemos dizer que essa é uma busca espiritual e que pode fazer toda a diferença na vida de qualquer pessoa. E porquê? Porque quando existe um certo alinhamento em relação ao que penso, digo e faço não há mais um conflito interno. Quando há conflito, há sofrimento.

Um sinônimo para essa busca seria viver uma vida pautada pelo dharma
Dharma no sânscrito tem várias definições, mas aqui vamos utilizar uma famosa expressão que diz "não fazer aos demais o que não gostaria que fizessem comigo". Viver uma vida dhármica está assocido ao entendimento da própria lei do karma onde para toda ação existe um resultado seja ele visível ou não, o resultado sempre será intrínseco ao que fazemos. 


Curioso que toda a sociedade possui tanto valores falsos como verdadeiros. Se basearmos as nossas crenças em valores falsos isso vai gerar problemas. Por exemplo, dizer que a pessoa solteira é solitária pode fazer com que a sociedade acredite nesse valor, o que é uma ilusão (moha). Você pode ser casado e ainda assim se sentir completamente sozinho. Isso é um padrão da psique e não um valor verdadeiro.


Somos dotados da capacidade de refletir, discriminar e escolher devido ao nosso intelecto (buddhi). Sendo assim, deveríamos pautar as nossas ações naquilo que estivesse de acordo com o dharma, já que seria incoerente agirmos de forma contrária. Essa deveria ser uma regra de ouro para todos nós mas nem sempre isso acontece, pois o padrão mental é muito forte, o que impossibilita que certas mudanças sejam feitas em prol do bem comum.


E por quais razões deveríamos respeitar os animais?


Não-violência (ahimsā)
Não-violência é o primeiro princípio de conduta ética do Yoga e que estende para as outras questões a seguir. Significa não ferir qualquer ser (inclusive a si mesmo), em qualquer circunstância e em qualquer local. Violência (himsā) seja gratuita, justificada por uma tradição, para o consumo, para o controle populacional, qualquer forma que seja é violência. Quem somos nós para tirarmos a vida de outros seres? A violência só pode ser justificada, em última instância, quando é para proteger o dharma. Em alguns casos, tirar a vida de outro animal se justifica para a manutenção da própria vida, mas isso não nos isenta de um fruto vinculado a essa ação. A questão é que o homem atropela esse princípio básico por necessidades totalmente questionáveis trazendo graves conseqüências para os outros e para ele mesmo. Para o yogui consciente esse tipo de prática traz conseqüências kármicas indesejáveis e é considerado como algo inadequado.


Meio Ambiente
A degradação ambiental já não é mais uma novidade. Ela atinge todas as áreas do ecossistema. A grande parte das áreas desmatadas no mundo são destinadas à pecuária. No Brasil, por exemplo, mais 80% são ocupadas por pastos para o gado. Como resultado dessa atividade estamos tendo o efeito do aquecimento global e as diversas mudanças climáticas. O grande número de animais nessas áreas vem elevando para mais da metade o consumo de água potável no planeta, além de contribuir para a destruição da camada de ozônio devido a grande emissão de gases por esses animais (responsável por 18% contra 13,5% do setor de transporte). O aquecimento global também está promovendo o degelo na Antártica e todas essas mudanças estão resultando na extinção e mortes de animais em todo planeta. Aceite ou não, se você consome carne está sendo totalmente conivente para que esse quadro atual se agrave cada vez mais. Se boa parte dessas áreas fossem destinadas a produção de cereais, o problema da fome no mundo estaria solucionado. Hoje, cerca da metade da produção mundial de grãos sãos destinados à pecuária.


Saúde
Dizer que é impossível viver sem carne é mentira! Dizer que quem é vegetariano é radical depende do ponto de vista. Hoje, qualquer médico ou nutricionista comprometidos com a saúde são unânimes em apontar os malefícios da ingestão de carne. É sabido que quando ingerimos carne, assimilamos boa parte da quantidade de hormônios, remédios e toxinas desses animais. Fora isso, as carnes são de difícil digestão e para quem consome em boa quantidade tem grande risco em adquirir prisão de ventre, câncer de cólon, colesterol ruim, envelhecimento precoce, mal de Parkinson, doença de Minamata (assimilação de mercúrio proveniente da carne de peixes), problemas cardíacos dentre outros. As características no nosso organismo desde a dentição até o sistema digestivo não são de um ser carnívoro. Muitas vezes, o hábito de comer carne está cristalizado num forte padrão. Afinal, não escolhemos o que queremos comer quando somos crianças. O ritmo de vida que as pessoas estão adotando, principalmente, nas grandes cidades faz com que percamos a noção da diferença entre a fome e apetite. A fome é uma necessidade natural do organismo de obter energia através da ingestão de alimentos. Apetite é uma carência psicológica, uma necessidade de alimentar-se para obter ou substituir um prazer. Quando perdermos a sensibilidade em diferenciar o que necessitamos e o que desejamos comer corremos o risco de optar por aquilo que nem sempre é mais saudável para nós. Ainda existe um grande pré-conceito em relação a alimentação vegetariana, mas por outro lado sabe-se que cresce cada vez mais o número de adeptos em todo mundo. Mudar um hábito não é uma tarefa simples, pois implica em esforço e coragem mas os benefícios são grandes. Dentre eles a purificação da mente e do corpo, qualidade do sono, diminuição da agressividade, evitar o sofrimento dos animais, além da questão ambiental. Recomenda-se, no início, para quem deseja criar o hábito da dieta vegetariana fazer um acompanhamento nutricional.


Concluindo, temas como esses são bastante complexos e polêmicos. Requerem uma reflexão profunda e necessária. Refletir faz parte do processo de auto-conhecimento e deveria estar presente em relação a tudo que fazemos, pois ajudará no processo de discriminação e escolhas. Os exemplos do comportamento do ser humano apontados nesses documentários são apenas uma amostra do que ocorre ao nosso redor. Só conseguiremos viver uma vida de Yoga, uma vida em harmonia quando o dharma estiver pautando a minha busca por segurança e prazer. Nesse sentido, o que é o seu direito passa a ser o meu dever e o que é o meu dever passa a ser o seu direito. Que possamos ter a clareza para olhar para aquilo que se encontra a nossa volta como algo não diferente de nós. Que possamos compreender qual é o nosso papel aqui neste mundo e exercê-lo em prol do bem comum.



“Nós somos a sua única esperança” 
My friend Is...


terça-feira, 13 de julho de 2010

A base do Yoga: Yamas e Niyamas



Diferentemente do que seria coerente é comum as pessoas iniciarem a prática de Yoga pelos āsanas (posturas). Contudo, antes dos āsanas deveríamos ter em mente a existência de algumas condutas éticas e comportamentais que necessitam estar bem claras, já que são os alicerces da prática. Elas são os Yamas e Niyamas que estão presentes no Yoga Sūtras ("Aforismos do Yoga"), obra clássica de Patañjali, que expõe o Ashtanga Yoga ("Yoga de oito partes"). O propósito de virem como práticas anteriores aos āsanas é, justamente, promover a purificação do yogui. Essa purificação é a base necessária para quem quer "alcançar" moksha (liberdade), ou seja, o objetivo final do Yoga.


Yamas (controle ou domínio) - 5 princípios de conduta ética, ou seja, aquilo que você não deve fazer.
1. Ahimsā – não-violência
Ahimsā é não ferir qualquer ser, em qualquer circunstância e em qualquer local. Inclui também não machucar a si mesmo.


2. Satya – veracidade, não faltar com a verdade
Satya, buscar ter sempre a verdade presente nos pensamentos, gestos e palavras.


3. Asteya – não-roubar, não se apropriar do que não é seu
Asteya significa não roubar, não cobiçar ou invejar aquilo que não lhe pertence. Essa condição se estende também aos pensamentos.


4. Bramacharya – não desvirtuamento da sexualidade
Bramacharya pode ser compreendido como abstinência sexual ou utilizar a energia sexual de forma equilibrada e honesta.


5. Aparigraha – não-possessividade, não-apego.
Aparigraha é não ter apego em relação aos bens materiais e relações afetivas. A cobiça e acúmulo tendem a causar problemas, já que as coisas estão limitadas pelo tempo e quando nos associamos com elas temos problemas para entender o verdadeiro significado do que elas representam.


Niyamas (observância) - 5 princípios de conduta comportamental, ou seja, o que você deve buscar e vivenciar.
1. Sauchan - purificação
Sauchan está relacionado a purificação interna aonde através de técnicas busca-se eliminar impurezas da mente como também a purificação externa (qualquer tipo de ambiente).


2. Santosha – contentamento
Santosha é cultivar um estado interior de permanente alegria, independentemente das circunstância externas.


3. Tapas – esforço sobre si próprio, austeridade.
Tapas tem como objetivo buscar um estado de purificação aonde o indivíduo consiga obter o controle do seu corpo indo além dos limites impostos pela mente.


4. Svādhyāya – auto-estudo e estudo das escrituras do Yoga
Svādhyāya é o estudo de si próprio através da reflexão sobre a sabedoria das escrituras (śastras) e a aplicação prática desse conhecimento.


5. Īśhvara-pranidhāna – entrega a Īśhvara
Īśhvara-pranidhāna é entregar as ações e seus frutos a uma vontade superior à própria.


Podemos concluir, que se a maioria das pessoas praticassem a ética do Yoga conseguiríamos viver em completa harmonia. São considerados sārvabhauna (supremos ou universais), ou seja, podem ser praticados por qualquer pessoa e em qualquer circunstância. Eles deveriam ser vistos como uma virtude. Cabe lembrar que o Yoga começa e termina na ação-virtuosa.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Resgatando as origens...


Acredita-se que os primeiros registros de pranchas de surf aconteceu no Peru por volta de 4.000 anos atrás. Eram feitos com caballitos de totora.




Indícios mais recentes encontra-se na Polinésia há 3.000 anos. Eram simples tábuas de madeira, sem quilhas, que mais tarde foram aperfeiçoadas pelos havaianos recebendo o nome de Alaia. Depois de muito tempo em desuso esse tipo de prancha com sua maravilhosa simplicidade e rendimento voltou a ser usada.


La-la é a palavra havaiana que descreve a ação de construir este tipo de prancha.


Tive a oportunidade em 2009 de passar bons momentos surfando com o shaper Rodrigo Gamarra nas praias do Peru. Ele que é um grande investigador e artesão de pranchas. No vídeo, vemos como a tradição ainda se encontra presente e a harmoniosa relação que o Rodrigo estabelece com o mar. Aloha!


Rodrigo Gamarra mora em San Bartolo (Peru), faz pranchas e tem uma pousada - http://www.rodgsurf.com/

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Reflexão




Faz tempo que me intriga o pouco espaço dado pela mídia às questões do mar. Ainda que o tema seja meio ambiente, cuja demanda não pára de crescer, a situação persiste. Preste atenção e constate: para cada dez matérias, oito, ou nove, abordam questões relativas aos continentes. Por que que os oceanos são tratados como algo menor, apesar de sua vital importância, e sabendo-se que ocupam 71% da superfície da Terra?


Como é possível um tratamento secundário, e superficial, ao ecossistema que gerou vida no planeta? Desde os primórdios os oceanos nos dão comida e trabalho, mas isto é periferia comparado a outros benefícios. Os cientistas sabem que a gigantesca massa dágua presta serviços essenciais à vida. Até mesmo o ar que respiramos é obra deles: 80% do oxigênio da atmosfera é produzido durante o processo de fotossíntese experimentado pelas algas do fitoplacton.


Apesar das mudanças climáticas estarem nas manchetes, quase todos os dias, é raro achar matérias que expliquem como os oceanos regulam o clima, e contribuem para amenizar o aquecimento global ao sequestrar o dióxido de carbono da atmosfera (o gás causador do efeito estufa que promove o aquecimento global), depositando-o no fundo do mar. Os mares ainda fornecem energia e lazer. São via de ligação entre os continentes, e vitais para o comércio entre as nações. Promovem o turismo e diversos esportes. E nos dão algumas das mais belas paisagens (que destruímos sem piedade) com suas praias, falésias, dunas e baías.


Por que, então, o descaso? Pergunta difícil que comporta hipóteses. Uma delas talvez esteja relacionada ao conhecimento insuficiente deste corpo dágua. Até hoje o homem explorou menos de 2% do fundo dos oceanos.


Dificuldades técnicas agravam a questão: é complexo e caro explorar esta imensidão submarina. Mas também era caro, e ainda mais difícil, explorar o espaço sideral. Entretanto, instigado pela Guerra Fria, o gênio humano não se apequenou: colocou o homem na Lua, e se prepara, agora, para levá-lo à Marte.


Então, o que acontece com o mar?


Arrisco sugerir algumas pistas, entre elas, a diluição da propriedade. Os oceanos pertencem à todos, são um bem coletivo, um patrimônio da humanidade, e um reflexo de seus paradoxos e contradições.


Nos fóruns internacionais, é fácil culpar um determinado país, por não zelar por seus recursos naturais. Mas, como culpar a todos, pelo descaso com relação aos oceanos? Quem pressionará quem?


A verdade é que mal temos conseguido cuidar de nossa própria casa, os continentes. Que diria dos mares, que são o quintal?


Transformamos os oceanos numa espécie de “depósito-sem-dono”, de onde tiramos recursos naturais de forma ininterrupta e indiscriminada. E não há força capaz de frear tal comportamento, mesmo com os alertas dramáticos da comunidade científica. Os especialistas têm sido enfáticos em seus prognósticos. O colapso está próximo. A falência do sistema se avizinha.


De acordo com estas informações (publicadas por um grupo de cientistas na Revista Nature), 50% dos recursos de pesca estão toalmente esgotados, e 25% submetidos a exploração excessiva. Restam poucos bancos de pesca ainda não sobreexplorados. Para estes especialistas, a pesca industrial acaba em 2048.


Mas o ser humano não se contenta só em retirar. Diariamente despejamos nos oceanos milhares de litros de esgotos não tratados (dois milhões de toneladas por dia), além de quantidades assombrosas, e ainda não mensuradas, de agrotoxicos, defensivos agrícolas, óleo, e toda espécie de lixo imaginado.


O resultado é que estamos acabando com a vida marinha antes mesmo de conhecê-la melhor. Mas, muito pior que isto, é a ignorância. Só ela para justificar a apatia da opinião pública que não reage, ou reage pouco, às questões marítimas. Não é por outro motivo que cerca de 30% do espaço continental (mundial) está protegido por alguma forma de unidade de conservação, enquanto nos mares a área equivalente não ultrapassa 1%!


Por isto surgiu este blog. Seja gerando conteúdo inédito, através de minhas viagens, seja entrevistando especilistas, ou recolhendo informações na mídia, procurando ampliá-las e repercutí-las, este espaço se compromete com o mar, a zona costeira, e suas multiplas e variadas questões.


Por João Lara Mesquita, músico, fotógrafo e jornalista - http://www.marsemfim.com.br/