terça-feira, 23 de novembro de 2010

Entrevista: Amyr Klink (parte 2/3)


Vicente Morisson:
Sabemos que você é um grande colecionador de canoas antigas. Como surgiu esse interesse e por quê?
Amyr Klink: Eu percebi que o Brasil tinha uma riqueza muito grande em relação as técnicas de fazer barcos. Isso é um assunto que está intimamente ligado a nossa genuína cultura. Foi dai que surgiu a idéia de fazer o Museu Nacional em Santa Catarina. Aliás, é onde está o barquinho a remo, o Paraty. A idéia do museu era, justamente, resgatar essa riqueza de feitios, técnicas de estilos e um pouco desse patrimônio perdido.


O museu aconteceu, é bem sucedido e o método de gestão é um pouco diferente do convencional. Agora, estou travando uma batalha com o museu, pois quero tirar o meu barco de lá. Antes, o barco chamava público e por isso eu deixei lá. Mas, hoje, o museu já tem identidade própria e não precisa mais dele.



VM: Você leva algum tipo de experiência do mar para o seu dia-a-dia? Qual (is)?
AK: Normalmente, eu sou listado a fazer isso. Trazer experiências e aprendizados do mar para o dia-a-dia pelos próprios convites para fazer palestras em colégios e empresas da área financeira. Eu acho um pouco de oportunismo você fazer analogia, mas o fato real é que essa experiência no mar ensina muito para a gente em todos os sentidos. Enfim, tem um monte de qualidades e virtudes que são importantes no mar para você sobreviver. Uma certa dose de abstinência, uma capacidade de sacrifício, abrir mão em prol de um objetivo.


Um fato, que você é obrigado a ter uma sensibilidade maior, por exemplo, entender de assuntos diferentes, olhar a visão do outro, ter um certo desapego por valores materiais, uma coisa que meus pais tinham e eu não entendia. Hoje eu sei. Tem um amigo nosso que tinha um barco maravilhoso, foi o sonho da vida dele e afundou. Estava com cinqüenta e poucos anos de idade, teve que começar tudo de novo do zero e está feliz como nunca. Hoje, a gente tem alguns objetivos de vida que nesse mundo da hiper exposição dual onde se preza demais a aparência, como a marca do carro, o bairro aonde mora, o tamanho da casa, o status econômico. No mar não tem essas coisas. Na Antártica muito menos.


VM: Quem são as suas grandes referências no mar e fora dele?
AK: No mar eu tive várias influências. Primeiro foi um mestre canoeiro que pessoalmente nunca cheguei a conhecer. Sempre o admirei. Ele era o Mané Santos de Paraty. De repente, eu descobri que ele era uma lenda viva e só meia dúzia de velhos canoeiros o conheciam. Fui aprendendo tudo sobre esse cara. Ele foi uma referência.


Uma outra referência que eu conheci foi o casal Poncet que me conheceram em Paraty quando eu tinha dezessete, dezoito anos. Eu tinha muitas vacas por lá, trabalhava com produção de leite e queijos. Naquela época eu não sabia a diferença de um barco e uma banheira. Vinte anos depois a gente se encontra na Antártica e eu estava com um barco super moderno, ousado, terminando uma viagem e eles me perguntam Você não é aquele cara das vacas? E esse casal foi o primeiro a ter um barco que invernou na Antártica. Eles acabaram tendo três filhos a bordo. Hoje, estão separados, mas vivem sempre juntos e são lendas imortais da história do descobrimento da Antártica.


Teve também um francês, o Erick Tabarly. Ele era da marinha e de tal modo apaixonado pela vela, que tornou-se uma das figuras mais importantes não só na história, mas na cultura náutica francesa. Por pura causalidade tive o privilégio de velejar uma vez com ele.


Fora do mundo náutico tem tantas pessoas... literária, por exemplo, eu gosto do Walter Campos de Carvalho. É um negócio engraçado, pois a maioria dos grandes autores brasileiros eu não gosto de ler. Primeiro, eu acho que se escreve muito mal no Brasil e isso é uma coisa que eu aprendi com os meus pais que não eram brasileiros de nascimento, mas eram muito mais brasileiros do que quem nasce aqui, que abraçaram o Brasil de coração. Eu gosto muito do estilo do Campos de Carvalho.


Algumas outras referências que eu acabei conhecendo, como o comandante Rolim que não caberia hoje num mundo politicamente correto. No Brasil tem pessoas extraordinárias. Um dos maiores gênios que a gente já teve é o músico Elomar Figueira Mello. Além dele, tem o Antonio Nóbrega, um multi-artista do Quinteto Armorial.


VM: Qual é a sua preferência alimentar? Você faz algum tipo de acompanhamento nutricional?
AK: Eu faço, por que essa história de ficar 3 a 4 meses no mar por ano tem algumas seqüelas. Por exemplo, a gente perde muito peso, às vezes de 15 a 20 kg e você recupera muito peso depois que volta. Então, sempre tem essa oscilação calórica que é terrível. Você aumenta brutalmente o consumo de calorias quando sai para uma viagem. Aí quando você volta, embora você perca peso, subitamente você começa a ganhar tudo de novo. Eu gosto de fazer acompanhamento nutricional de vez em quando. A minha mulher, a Marina, é vegetariana mas eu não sou. Mas gostaria de ser.


VM: O que impede você adotar uma vegetação vegetariana?
AK: Acho que são algumas questões culturais, o lado libanês da família, mas eu gostaria de acompanhar a Marina nesse aspecto. Eu acho interessante.


VM: E as suas filhas são vegetarianas?
AK: No momento não, mas a gente discute muito isso em casa. Elas tem grande inclinação para serem vegetarianas. O lado prático que me anima nisso no caso das viagens é a parte logística que é muito mais fácil. A gente usa muito da culinária oriental, principalmente, produtos desidratados, cereais e grãos. Na dieta a bordo ajuda bastante.



VM: De uma maneira geral, já que você viaja bastante devido a sua profissão, como você vê a relação do homem e o mar hoje em dia?
AK: Talvez, eu falaria um pouco a relação homem e natureza onde a gente fala muito, mas a gente pratica pouco. A gente se isola, se afasta. No caso do mar, especificamente, eu acho que existe uma grande distância, hoje, entre intenção e a realidade. Todo mundo quer se proteger mas a gente quer adotar posições cômodas, criar uma lei que protege e plastifica mas que não funciona, porque para cada lugar, para cada atividade você tem que adotar, às vezes, atitudes específicas e isso é difícil na prática.


Num país como o Brasil, eu acho que a gente tem um profundo “medo” do mar, uma considerável dose de desprezo. Culturalmente, a gente se livra de tudo aquilo que a gente não quer. Isso acontece sistematicamente. Por exemplo, um grande amigo arquiteto em Paraty, um super ecologista de carteirinha fez um baita condomínio popular e despejou o esgoto in natura sem nenhum tipo de tratamento, algo de morrer de vergonha. A gente tem esse hábito. Paraty é uma cidade aonde eu aprendi muito sobre isso. É uma cidade planejada e que na época era pioneira em matéria de limpeza e saneamento. Hoje, o pessoal fura qualquer galeria de água pluvial para jogar o esgoto. Qualquer passagenzinha de água está contaminada de esgoto clandestino. É uma questão cultural. É fácil acusar os prefeitos que não fizeram muita coisa. O fato é que é cultural. Tem gente que coloca o lixo na porta de casa. Parece discriminação mas em alguns lugares isso não acontece e outros não sei porque acontece mais.


No caso, do estado do Rio de Janeiro isso é uma coisa horrenda. Todo mundo faz isso, tira o lixo de dentro e põe do lado de fora. Se o terreno é baldio, então, vira um lixão. Tem o lado do urbanismo onde é muito mais inteligente, consome muito menos energia, utilizar canais navegáveis. O Brasil tinha malha de canais naturais navegáveis absolutamente incrível e foi simplesmente castrada por estradas. Houve um período da nossa história onde era tamanho o desprezo em relação ao mar que a gente resolveu simplesmente cortar qualquer chance de interação. Você vê o absurdo que é a Baixada Santista. Tudo era interligado de forma eficiente, barata, confortável, rentável até por canais naturais e de repente fizeram essa excrescência da Anchieta e depois a excrescência maior ainda da Imigrantes com pontes tangenciando a água. Existe um paternalismo em relação aos manguezais também que é incrível. Favela pode e empreendimento não pode? Se pode favela porque não pode outras coisas? O que não pode não pode. Tira o pessoal da favela.


Aconteceu uma coisa curiosidade na nossa história no Recôncavo baiano que tinha toda uma malha de serviços executados por veleiros incríveis pelo mar, aí fizeram centros de distribuição longe do mar. Você tem os rios Capibaribe, Beberibe em Pernambuco onde as pontes eram baixas e aniquilaram as possibilidades de uso dos rios como meio de transporte. Isso também aconteceu na Baia de Guanabara, na Baixada Santista e outros lugares também.


Você tem por Porto Alegre que foi amputada do porto e tem porto no nome, mas não tem nada de porto. Tem inúmeros exemplos no Brasil, como Estação das Docas em Belém. Você tem um monte de coisas. As hidrovias que por lei, na execução das barragens para geração hidroelétrica, determina a previsão de recursos, capacidade de embarcações e até para migração dos peixes que não estão sendo feitas. Estão sendo licitadas, agora, em Tocantins, por exemplo, duas ou três eclusas, mas simplesmente não se está obrigando os proponentes a executar as eclusas. Quer dizer, você aniquila a necessidade de uso do rio. Então, tem esse lado curioso nosso que a gente não gosta de nada que é bom.


VM: Qual o lugar mais especial que você já navegou?
AK: Nossa, é tão difícil de falar! Tem a Baia de Paraty, Mamanguá e Meros. Essas três baias são muito especiais. Eu gosto muito do pedaço da península Antártica, que chama Plenau, um lugar que tem uma armadilha natural que prende grandes icebergs e aí eles vão ficando colados uns nos outros e assumindo formas absolutamente mágicas. Vc fica no meio do gelo sem enxergar a água e de tão claro parece que vc está voando. É um lugar especial.


Foi pra mim também especial navegar na Ilhas Feroe, um arquipélago escandinavo, que pertence Dinamarca. É um lugar que eu adorei conhecer porque eu conheço bem a Escandinávia, minha mãe era escandinava e eu sei o quanto eles são aparentemente frios e os habitantes da Ilhas Feroe tem muito desse calor brasileiro, que é incomum você encontrar. Só que eles conseguiram uma prosperidade extraordinária graças ao sistema de ensino que não é muito convencional. Eles não ensinam matemática, física, química. Eles trabalham em cima das tradições deles que eles respeitam bastante e você vai para uma escola e aprende, por exemplo, a construir um barco viking ou uma casa. E na construção você aprende matemática, física, química, astronomia, história de uma maneira muito sofisticada e que produz resultados incríveis.

sábado, 13 de novembro de 2010

Morte

Para quem é amante das ondas, provavelmente, se chocou com a morte precoce do tri-campeão de surf, Andy Irons, 32 anos, em pleno dia de Finados (02 de Novembro). Andy não estava se sentindo bem na penúltima etapa do Circuito Mundial de Surf em Porto Rico e preferiu voltar para casa. Antes de chegar no Hawaii foi obrigado a fazer escala em Dallas por estar se sentindo muito mal. Ali mesmo, no hotel onde estava foi encontrado morto com suspeita de ter morrido de dengue hemorrágica e/ou uso de drogas.


Pois bem... vira e mexe aparece essa tal da morte em nossas vidas! O que ela representa e porque pega todo mundo de surpresa? Porque esse assunto é tão pouco discutido e evitado na maioria das vezes que citado?


Certamente, essa não é uma questão simples de ser respondida, até mesmo porque nunca ninguém voltou para nos contar o que acontece do outro lado desta vida. Mas uma coisa é certa, a qualquer momento podemos morrer, já que não temos controle algum sobre a morte. Se não buscarmos um entendimento do seu real significado, o sofrimento será inevitável.


O sofrimento na nossa cultura perante a morte está vinculado ao desespero, dor, medo e uma sensação de vazio, já que temos uma grande identificação com aquela pessoa/corpo. Contudo, nas principais tradições orientais esse comportamento é considerado ilegítimo. Entender sobre a morte faz a gente olhar para a vida de uma outra perspectiva.


A tradição do Vedānta está presente e é estudado até hoje, pois esse conhecimento fala sobre a nossa realidade (brahmavidyā). Entender a nossa natureza essêncial é uma ótima maneira de descartarmos tudo aquilo que nós não somos. Nesse contexto, a morte passa ser um ótimo exemplo para elucidarmos essa noção de limitação que tanto nos incomoda.


Afinal, o que ou quem morre?


Primeiramente, não há nada em relação ao espaço e tempo que não se transforme, que tenha um início, meio e fim. Alguns acreditam que essa é a única vida e outros que voltaremos quantas vezes forem necessárias para concluir o que deve ser aprendido. Tanto uma visão quanto a outra é não-verificável, ou seja, não passível de comprovação. Contudo, mesmo assim podemos ver o significado da vida/morte de uma forma objetiva.


Se achamos que essa é a única vida, portanto, não deveríamos sofrer sabendo que existe um fim para ela. Por outro lado, se essa vida é apenas é uma passagem para o aprendizado, tampouco, deveríamos sofrer já que teremos outras oportunidades para aprendermos com ela.

Contudo, isso não é o bastante para livrarmos do sofrimento quando alguém se vai. Esse sofrimento se deve unicamente pela ignorância de não compreendermos o que nós verdadeiramente representamos.

Dentro da visão Védica, as escrituras sagradas (śastras) nos apontam que a nossa natureza, o Ser, é livre de limitação. O que é limitado pelo tempo e pelo espaço é somente o nosso corpo físico. Uma tradução para a palavra corpo, śarira em sânscrito, é “aquele que está em constante declínio”. Se compreendermos o que ele significa veremos que é imaturo lutar contra esse processo de envelhecimento que é natural.

Mesmo se o corpo não completa todas as suas fases da vida (criança, adulto e idoso) é imaturo desesperarmos pela sua perda, já que o Ser não morre. A Consciência sempre estará presente na forma ou sem a forma.

O sentimento de perda, saudades e tristeza por aquele que se foi é natural, mas não podemos confundir aquela pessoa com o corpo. Essa identificação é equivocada, pois o corpo físico é somente matéria.

Na visão reencarcionista, a sucessão de nascimento, morte e renascimento só se interromperá quando o karma (a lei de causa e efeito) daquela pessoa cessar. Carregamos tendências latentes fruto das nossas ações e pensamentos passados e elas definem o nosso presente e nosso futuro. Portanto, não há como controlar a vida do nosso corpo, já que existe uma ordem que governa a lei do karma.

Se essa vida for única, o que morre é somente a matéria, pois o Ser continua sendo ilimitado pelo tempo e pelo espaço.

Podemos modificar o nosso karma?

Sim, já que o karma não se refere apenas aos resultados das nossas ações. Eles estão diretamente ligado as ações que executamos a todo instante. Ação e resultado da ação (karma-phalam) fazem parte da lei causa-efeito. Assim, podemos modificá-lo através da prática dos Yamas e Niyamas, Karma Yoga, desapego, meditação e mantras.

Portanto, deveríamos procurar viver as nossas vidas a cada instante fazendo o nosso melhor e contribuindo sempre que puder em prol do bem comum. Dentro da imperfeição que todos nós somos, certamente, o surfista Andy Irons concluiu o seu ciclo de vida de uma forma muito significativa para aqueles que amam as ondas. Compreender uma situação como essa é essencial para o processo de amadurecimento que a vida nos coloca.





Que possamos nesses momentos de "perdas" recordar as sábias palavras do prof. Hermógenes e colocá-las em prática: entrega, confia, aceita e agradece!



Aloha e namastê!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Porque sofremos?



O Yoga Sūtra de Patañjali é uma obra composta de 196 aforismos e é uma das grandes referências para quem estuda o Yoga. O capítulo II comenta sobre a prática (Sādhana Pāda) e nos apresenta de forma muito clara os 5 tipos de kleśas.

Kleśa significa sofrimento, aspecto doloroso da consciência, aflição, miséria existencial.

Essas aflições quando manifestadas potencializam o desequilíbrio de certos atributos (gunas), modificando dessa forma o fluxo de causa e efeito, se refletindo nos frutos das nossas ações.  Elas são: ignorância (avidyā), egoísmo (asmitā), apego (rāga), aversão (dvesa) e medo da morte (abhiniveśa).

A
ignorância (avidyā) é a causa dos outros quatro kleśas.

Eles existem em vários estados: latente, atenuado, intermitente ou ativo.

Se apresentam de três diferentes formas:
- Ādhidaivika: aquele que surge das forças da natureza.
Ex:
Tsunami, terremoto, tempestades, indundação, etc.
-
Ādhibhautika:
aquele que nasce dos relacionamentos.
Ex: Não aceitarmos as pessoas como elas são.

-
Ādhyātmika:
aquele que vem de dentro, ou seja, já está na pessoa na forma de condicionamentos ou crenças limitantes.
Ex: Achar que um determinado objeto possa nos dar a felicidade que tanto buscamos.


Quando compreendemos que o fruto do nosso sofrimento é proveniente da nossa ignorância (conhecimento errôneo), o único antídoto para nos livrarmos dele é o conhecimento. A causa do sofrimento se dá unicamente por uma má compreensão do real significado das coisas (ilusão). Através do conhecimento podemos distinguir o que realmente nos torna feliz e satisfeitos, saber as coisas que podemos modificar daquelas que não podem ser modificadas.

É necessário sempre investigarmos o que motiva a nossa insatisfação. Quando lutamos por algo devemos ter em mente, antes de tudo, que essa é uma luta interna. Certas tentativas de mudanças e conquistas se tornam inúteis quando elas apresentam as suas próprias limitações. Isso pode representar uma grande perda de tempo e energia, que poderíamos estar direcionando para mudanças realmente úteis.

Aceitarmos as coisas como elas são não significa ser compassivo com tudo, mas aceitar uma dada situação como ela é. Achar que podemos adquirir, controlar e modificar o mundo e os outros é um grande equívoco, uma grande falta de maturidade emocional. Por exemplo: Quando programamos o nosso dia e as coisas começam a dar erradas, o que adianta ficarmos nervosos e procurando achar culpados para os nossos problemas? Com certeza essa postura não vai mudar nada e de bônus vamos estar gerando uma bela úlcera no nosso estômago.

Se compreendemos isso passamos a trabalhar a “acomodação” (estado  de kśanti) frente as diferentes situações apresentadas para nós. Saber se acomodar é uma arte de se viver bem. Somente através da prática constante podemos modificar esse padrão. Isso representa uma maturidade emocional.

A maturidade emocional se reflete na compreensão que existe uma
ordem (Íśvara), uma inteligência que faz com que as coisas aconteçam e sejam exatamente da forma como são. Implica também na verdadeira compreensão dos valores e numa postura ética em relação a eles. Isso nos da a condição de agirmos e fazer o que é apropriado sempre que possível (dharma), além de vivermos uma vida onde os problemas passam a ser basicamente relativos.


domingo, 10 de outubro de 2010

Entrevista: Amyr Klink (1/3)

Amyr Klink é comandante da embarcação. Natural de São Paulo, filho de pai libanês e mãe sueca. Começou a freqüentar a região de Paraty (RJ) com a família quando tinha apenas dois anos de idade. Essa cidade histórica do litoral brasileiro é o lugar que o inspirou a viajar pelo mundo. Casou-se em 1996 com a Marina Bandeira, com quem tem as filhas gêmeas Tamara, Laura e a Marininha.

Desde 1965 coleciona canoas antigas. No terreno esportivo, foi remador pelo Clube Espéria (SP) e à partir de 1978 começou a realizar grandes travessias. Uma das mais marcantes foi em 1984 onde realizou a primeira travessia do Atlântico Sul a Remo em Solitário. Depois preparou-se para ir à Antártica lugar que acabou retornando várias vezes.

Sempre muito curioso procurou desenvolver os seus próprios barcos utilizando novos conceitos construtivos.  Aplicou também essas novas técnicas em produtos de uso cotidiano, submetidos a condições extremas e produzidos com a preocupação de não agredir o meio ambiente. Dentre vários livros, os mais conhecidos são: "Cem dias entre céu e mar", "Paratii - Entre dois pólos", "As janelas do Paratii" e “Mar sem Fim”.

Formado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, o navegador é diretor da Amyr Klink Planejamento e Pesquisa Ltda e da Amyr Klink Projetos Especiais Ltda. Também foi (é) Sócio-Fundador do Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul (SC), e da Revista Horizonte Geográfico.

 É membro da Royal Geographical Society e Assessor de Expedições da Revista National Geographic Brasil.

Vicente Morisson: Praticamente desde que nasceu você começou a ter contato com o mar na região de Paraty (RJ). Quando começou a paixão por barcos?
Amyr Klink: Começou por 2 razões. Primeiro a convivência com a cidade de Paraty aonde meu pai foi antes da abertura da estrada entre 1955 e 1956, mais ou menos o ano que eu nasci. Ele conheceu Paraty devido a um acidente de avião. Acabou caindo em Barra Grande e foi para Paraty de mula. Ele ficou encantado com a região e adquiriu muitas propriedades, muitas fazendas.

Ele era um visionário e não era um cara empreendedor. A maior parte dessas propriedades ficaram paradas um tempo. Como Paraty era uma cidade de curvas geográficas e por um terceiro desastre econômico entrou numa crise forte naquela época. Então, a cidade estava isolada e tinha um ambiente diferente, num período do Brasil que as coisas estavam em ebulição. Eu freqüentei a cidade à partir dos dois, três anos de idade, de 1957 pra frente me encantei com a cidade.

Mas eu não tinha ainda essa visão dos barcos, esse conhecimento, mas acho que descobri isso através da literatura quando já era bem mais velho, quando já lia. Comecei a ler, li primeiro a Expedição Kontik e fiquei fascinado com o relato do Thor Heyerdahl. E aí, aos poucos, comecei a me interessar pelas canoas. Nunca liguei muito por jogar bola, eu gostava de sair para passear de canoa, de visitar as prainhas distantes de canoa. Paraty tem essa característica, que tentam eliminar a todo custo, onde o acesso é feito pelo mar. Desde pequeno eu já me interessava por esses assuntos ligados a locomoção pela água, ao invés, de estrada. Eu nunca gostei muito de estrada, carro, essas coisas que fascinam nós urbanóides. Paraty era quase uma Veneza. A maré entra nas ruas, você vai em quase todos os lugares da cidade usando os rios, os canais são abertos, ou seja, a locomoção entre as regiões do município são acessadas pelo mar no modo de se comunicar.

Eu tenho um apreço muito especial pelos livros, por esse privilégio de ter podido desenvolver um gosto pela leitura. Não sei se é gosto a palavra, mas o fato é que lá em casa todo mundo lia muito, em vários idiomas, meus pais falavam em torno de 5 a 6 idiomas cada um. Então, nos livros, eu fui descobrindo. Eu não falava idioma nenhum, aí eu resolvi aprender quatro idiomas. Comecei a ler horrendamente. Foi aí que nasceu uma conexão entre as canoinhas, aparentemente simplórias de Paraty e os barcos que viajavam pelo mundo e depois eu vi que elas não tinham nada de simplória, que são obras primas.

VM: O que mais lhe marcou na sua primeira grande travessia, aos 29 anos, ao percorrer 7.000 km durante cem dias numa embarcação a remo, o Paraty, no Atlântico Sul? Como foi construir o Paraty? O que representava estar naquele imenso oceano?
AK: O que mais me marcou não foi a travessia, a travessia foi a coroação de um desejo pessoal muito forte. Quando eu entendi que era viável fazer, não me assustava mais, pelo contrário, mas tudo foi muito difícil desde o projeto do barco. Primeiro, com um argentino alcoólatra, que nunca terminou o desenho técnico. Depois, foi um construtor super famoso em São Paulo, que fez os mais lindos barcos de madeira que já foram feitos no Brasil, me deu um cano. Recebeu o dinheiro para comprar madeira e esqueceu. Está até hoje fazendo o barco lá.

Acabei construindo o barco no Rio de Janeiro, na baixada Fluminense, no Vilar dos Teles, que era um distrito de Nova Iguaçu, que era bem o coração da baixada, lugar difícil, mas foi o único lugar do Brasil que eu achei para construir o barco e foi muito bem contruído. Feito em madeira moldada, e eu tive a sorte de encontrar um espanhol, muito mal humorado e pentelho, mas que amava trabalhar com madeira, que botou todo o coração dele, todas as ranzinzas dele pra fora e acabou o barco.

Depois foi a parte burocrática pra mandar o barco para a África e por último foi uma quase guerra que eu travei com as autoridades da África do Sul, que controlavam e ocupavam a Namíbia pra poder começar a viagem. Virou um assunto de notícia política na África do Sul. Noticiavam: “Mais um louco vai tentar fazer a travessia do Atlântico“ e eu não sabia que tinha três militares sul-africanos que já tinham tentado fazer a travessia, morreram, custou uma bala as tentativas de resgate, mas os resgates nunca ocorreram. Por incrível que pareça nada foi mais impressionante do que essa fase, que por vários fios de cabelo, tudo poderia ter nunca acontecido.

No final, a sensação foi a melhor experiência que eu tive na minha vida. Tudo o que eu queria era estar livre daquelas encrencas burocráticas, poder remar no meio do Atlântico, atravessando numa obra de paciência, onde só podia contar com o esforço do braço e um pouco de inteligência. Na verdade, a minha participação física estava sujeita ao modo como eu entedesse, decretasse tudo que eu passei, como as correntes, os ventos, as ondas para poder suplantar as dificuldades. Essa foi a razão pela qual eu consegui passar por um ciclone do Atlântico Sul. A viagem era uma curva e não uma reta. Foi uma experiência interessante.

Era também um mundo muito mais bacana, pois não tinha métodos de comunicação que temos hoje, como comunicação satelital. Não tinha noção de posição que hoje qualquer carro, ônibus, carrinho de sorvete tem. Naquela época não tinha GPS! Alí levava quatro, cinco dias para conseguir ter uma idéia aproximadamente daonde eu estava. Cheguei a ficar longos períodos de mais de dez dias, sem a menor sombra de idéia se eu estava de fato me aproximando do Brasil, ou indo pra Groelândia, ou pra Antártica. Eu não sabia exatamente o que acontecia. A sensação que, infelizmente, não existe mais, a menos que você atire o GPS no mar.



VM: Entre tantos desafios você chegou a dar a volta ao mundo durante 79 dias, sozinho, nos mares mais temperamentais do planeta. O que lhe motiva a realizar esses desafios e como é estar sozinho no mar?
AK: Primeiro, eu não vejo como desafios. Também não gostaria de chamar de aventura, não que eu não goste, eu gosto de aventuras, às vezes, gosto de encher a cara, ir pra algum lugar e não saber se vou voltar, só para sair do cotidiano.

No assunto, de viagem de barco eu não quero aventura, eu não quero. Quando quero viajar com a minha família para a Antártica eu quero ter certeza que no dia quinze de Dezembro, por exemplo, nós vamos estar na ponta Damoy na Antártica e abrir um Cabernet Sauvignon que a gente tem lá. Eu quero ter certeza. Não quero que seja no dia quatorze, quiça no dia vinte ou talvez só em Janeiro.

O que me motiva mais é um envolvimento emocional com a idéia de fazer viagens que aparentemente eram difíceis, mas depois da primeira eu estou convencido que é necessário muito menos esforço. Eu tive a sorte também de não ser vinculado, tecnicamente, a um meio náutico, porque senão eu acho que estaria com um monte de vícios e talvez uma visão um pouco tendenciosa de como tem que ser um barco.

Eu acho que essa experiência do Paraty pra mim foi produtiva porque eu aprendi a pensar no lado simples dos barcos, ou seja, da eficiência, da autonomia, o prazer de idealizar soluções complicadas de modo simples. Eu tenho uma profunda adoração por fazer isso. Embora eu não seja formado na área técnica, eu gosto. Um barco é uma entidade que representa, por si só, um desafio complexo e onde tem sempre coisas interessantes que podem ser melhoradas, que não passa pela cabeça dos especialistas. Então, esse lado técnico me motiva bastante.

VM: Como entra a espiritualidade na sua vida? Você é adepto a alguma religião? Tem algum tipo de prática pessoal?
AK: Puxa vida, nem sei como lhe responder. Eu não sou ligado a espiritualidade. Meu pai era yogui. Eu peguei uma aversão a qualquer tipo de manifestação religiosa. Eu respeito profundamente, mais do que quem presta uma religião, mas religião é um assunto que eu não gosto.

VM: Navegando por muito tempo você, provavelmente, já enfrentou algumas situações de risco. Qual foi a mais marcante de todas?
AK: O tempo inteiro você está sujeito a condições fortes de mar. A gente sabe e qualquer um a bordo sabe, que basta uma falha mecânica, uma decisão errada, uma manobra mal feita, um nó mal dado e você perde tudo, talvez, a própria vida.

As situações que mais me marcaram foram situações prosaicas onde você não visualiza de imediato o risco e depois que passa você percebe o que poderia ter acontecido era uma encrenca muito maior. Essas situações, às vezes, acontecem de modo quase imperceptível. Esse ano nós tivemos a quinta viagem com as nossas filhas para a Antártica e foi a primeira vez em 25 anos, 35 viagens para a Antártica que eu consegui passar pelo Golet, uma passagem mitológica da Antártica. Tivemos um quase acidente, um encalhe muito perigoso, numa passagem, numa garganta com o gelo fechando e isso pareceu a maior emoção da vida. Depois na volta quando a gente estava retornando para o Brasil, a gente percebeu o perigo que a gente passou não foi nada disso.

O grande perigo mesmo foi uma besteira que aconteceu no embarque da gasolina em Santos. No dia do Natal, o caminhão de combustível atrasou e o pessoal estava de mal humor, pois deveria estar querendo passar o Natal em casa. A gente mexeu com 4.000 litros de gasolina sem álcool e com uma octanagem altíssima. Essa história poderia ter voado pelos ares. Por muito, muito pouco, houve uma pane elétrica e a gente não explodiu. Então, normalmente, é isso que acontece.

O maior acidente que eu tive em vinte poucos meses de permanência na Antártica na primeira vez que eu fui para lá, sozinho, foi um acidente com o fogão. Esqueci os botões do fogão abertos, soltei treze quilos de gás e quase virou uma bomba. Então, tem um monte dessas histórias. Em 1998 eu fiquei impressionado com as famosas tempestades da Sidney-Hobart. Estava numa posição muito frágil e muito próximo da Antártica. Tinham ondas de mais de vinte e cinco metros que durou muito tempo, setenta horas. Foi uma comoção geral na Austrália, pois essa tempestade matou várias pessoas. A gente tentando acompanhar isso pelo rádio, sem entender bem porque o mar estava tão violento, mas aí eu falei, bom, mais um dia de problema!




VM: Você tem medo da morte? Como a encara?
AK: Bom, não me alegra muito a idéia de morrer (risos), mas também não é uma afirmação minha quando a gente está nesses lugares. Em certas situações, a gente sabe que o mínimo de descuido e a gente morre. Eu convivo, digamos bem, com essa possibilidade de morte. Tem coisas que eu sei que se eu escorregar lá, ou se eu não conseguir enfiar o parafuso da manilha, eu vou morrer. Eu sei. Então, alguém tem que ir lá. Eu gosto de ir lá, gosto de tomar a iniciativa e fazer.


Nessa hora, sinceramente, mesmo sabendo que eu posso morrer eu não fico pensando nisso. Eu trato esse assunto com um certo bom humor. Até a bordo a gente faz piada. Tem gente que acha que é humor mórbido e eu digo: oh, qualquer coisa você cuida das crianças, se não der certo o que eu tenho que fazer lá na popa. Mas, eu acho que é importante a gente ter consciência da morte. Me recordo daquele discurso famoso do Steve Jobs quando ele foi convidado para ser paraninfo da Universidade de Stanford. Ele fala sobre essa perspectiva da morte e que foi importante para ele.








VM: Depois que você teve as suas filhas você acha que elas fizeram você encarar o mar de outra forma? Caso sim, como?
AK: Eu acho que acabou um pouco o bom humor em relação a esse trato com a morte. Agora, não posso ser mais egoísta sabendo que posso morrer se algo não der certo. Imaginando que posso deixar as meninas desamparadas passei a pensar de um modo diferente.

Não é ruim, acho que foi até melhor. Muita gente fala você agora não vai mais viajar. Viajei muito mais por causa delas e acho que foi uma experiência positiva. Para falar a verdade, casei velho e não tinha planos de ter filhos. Foi uma grande alegria que a gente teve com a vinda das três.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Acomodação em relação a quê?



A acomodação é necessária em relação a pessoas, mas não em relação a ideias. Uma pessoa que tem crenças que na minha percepção são engraçadas, ou equivocadas, não deve deixar de poder ser meu amigo. O direito ao livre pensamento deve existir. Podemos e devemos acomodar a pessoa, mas não podemos acomodar as noções erradas.

Imaginemos agora que eu aponto para uma rosa e digo: “olhem para este papagaio”. Talvez alguém dê o benefício da dúvida e pergunte: “ele disse papagaio?!” Só damos o benefício da dúvida até verificarmos. Depois de confirmarmos, não podemos acomodar a minha noção errada. Não podemos acomodar porque o conhecimento da rosa não depende da nossa vontade. Não é puruśa 

tantram jñānamNós não decidimos que isto é rosa ou papagaio. Se é uma rosa, é uma rosa. O conhecimento é sempre tão válido quanto o objeto é. Por isso não temos qualquer interferência no conhecimento. Isto resulta da tradição. A natureza do conhecimento foi analisada exaustivamente.

Se é uma ação temos uma escolha, podemos fazer, não fazer, fazer diferente, mas o conhecimento é tão verdadeiro quanto o objeto. Não há escolha, nem acomodação no conhecimento.

Importa também frisar que por um lado, não nos tornamos intolerantes quando afirmamos “aquilo é uma rosa e não um papagaio”. E por outro, também não podemos ser tolerantes com o que é equivocado. A tolerância existe em relação à pessoa, mas no que toca ao conhecimento não há tolerância ou intolerância; há verdade.

Assim, quando os mestres criticavam, criticavam apenas conceitos e não pessoas. Se era uma afirmação errada, era uma afirmação errada, independentemente de ser dita por um sábio ou um ignorante.

Examinar conceitos não é ser intolerante. A tradição védica é uma tradição de ensinamento. E sendo uma tradição de ensinamento, as escrituras são apresentadas na forma de diálogo. Naturalmente, existem questões porque o que está aí, está para ser compreendido. Mesmo quando a fé é envolvida, deve ser examinada.

Por Miguel Homem, instrutor de Yoga (Portugal) - www.dharmabindu.com


domingo, 29 de agosto de 2010

ECO 92 RJ - Severn Suzuki

Nesse belo discurso da menina canadense Severn Susuki vemos que muita pouca coisa foi feita em relação ao meio ambiente. Esse é um grande exemplo que a maturidade não está diretamente relacionada a idade de uma pessoa. Parece que ainda sofremos do mal da normose (a doença de ser normal numa sociedade medíocre – termo criado pelo prof. Hermógenes).

Contraditóriamente, as “prioridades” parecem não surtirem efeito frente a tanta hipocrisia, corrupção e interesses diversos. O dharma está sendo colocado de lado por aqueles que deveriam justamente protege-lo. Que valores estamos querendo construir para nós e para as futuras gerações? Como bem colocado pela minha professora de Vedānta, Gloria Arieira, “Quando existe dharma o desejo fica de lado”.




Dharma significa ação adequada, ordem, lei, dever, virtude, bem comum, ética e conduta. Está inserido no sentido de preservar, manter a coesão entre as pessoas e as coisas, fazer aquilo que nos cabe, dar a nossa contribuição ao mundo. Simplificando, "não fazer aos demais o que você não gostaria que fizessem com você".

Olhar curioso de Wayne Levin



A capacidade de ver as coisas nem sempre nos garante compreender a realidade como ela é, mas é certamente um dos importantes meios de conhecimento que possuímos.  Quer seja atrás de um potente telescópio, quer seja atrás de uma lente fotográfica, quer seja através de um olhar interno.

 

O fotógrafo Wayne Levin parece nos desafiar com suas maravilhosas fotos subaquáticas, em geral, em preto e branco. Nascido na Califórina em 1945, apaixonou-se por fotografias desde criança. Formado no San Francisco Art Institut, Wayne se destacou fazendo imagens fantásticas do fundo dos mares do Havaí, todo o Pacífico, Caribe, Japão dentre outros.

     

Nos últimos anos, continua fotografando a vida do mar, surfistas, remadores de canoa, mergulho livre, nadadores, naufrágios, marinhas e aquários. Em suma, tenta descrever como muitos aspectos do oceano se torna possível dentro dos limites do gênero preto e branco.


Atualmente, ele está trabalhando em dois projetos, um livro sobre o seu extenso trabalho sobre os peixes Akule e outro sobre Kalaupapa (uma pequena comunidade sem personalidade jurídica, na ilha de Molokai, no Havaí).


Mais informações sobre Wayne Levin: www.waynelevinimages.com