sábado, 13 de novembro de 2010

Morte

Para quem é amante das ondas, provavelmente, se chocou com a morte precoce do tri-campeão de surf, Andy Irons, 32 anos, em pleno dia de Finados (02 de Novembro). Andy não estava se sentindo bem na penúltima etapa do Circuito Mundial de Surf em Porto Rico e preferiu voltar para casa. Antes de chegar no Hawaii foi obrigado a fazer escala em Dallas por estar se sentindo muito mal. Ali mesmo, no hotel onde estava foi encontrado morto com suspeita de ter morrido de dengue hemorrágica e/ou uso de drogas.


Pois bem... vira e mexe aparece essa tal da morte em nossas vidas! O que ela representa e porque pega todo mundo de surpresa? Porque esse assunto é tão pouco discutido e evitado na maioria das vezes que citado?


Certamente, essa não é uma questão simples de ser respondida, até mesmo porque nunca ninguém voltou para nos contar o que acontece do outro lado desta vida. Mas uma coisa é certa, a qualquer momento podemos morrer, já que não temos controle algum sobre a morte. Se não buscarmos um entendimento do seu real significado, o sofrimento será inevitável.


O sofrimento na nossa cultura perante a morte está vinculado ao desespero, dor, medo e uma sensação de vazio, já que temos uma grande identificação com aquela pessoa/corpo. Contudo, nas principais tradições orientais esse comportamento é considerado ilegítimo. Entender sobre a morte faz a gente olhar para a vida de uma outra perspectiva.


A tradição do Vedānta está presente e é estudado até hoje, pois esse conhecimento fala sobre a nossa realidade (brahmavidyā). Entender a nossa natureza essêncial é uma ótima maneira de descartarmos tudo aquilo que nós não somos. Nesse contexto, a morte passa ser um ótimo exemplo para elucidarmos essa noção de limitação que tanto nos incomoda.


Afinal, o que ou quem morre?


Primeiramente, não há nada em relação ao espaço e tempo que não se transforme, que tenha um início, meio e fim. Alguns acreditam que essa é a única vida e outros que voltaremos quantas vezes forem necessárias para concluir o que deve ser aprendido. Tanto uma visão quanto a outra é não-verificável, ou seja, não passível de comprovação. Contudo, mesmo assim podemos ver o significado da vida/morte de uma forma objetiva.


Se achamos que essa é a única vida, portanto, não deveríamos sofrer sabendo que existe um fim para ela. Por outro lado, se essa vida é apenas é uma passagem para o aprendizado, tampouco, deveríamos sofrer já que teremos outras oportunidades para aprendermos com ela.

Contudo, isso não é o bastante para livrarmos do sofrimento quando alguém se vai. Esse sofrimento se deve unicamente pela ignorância de não compreendermos o que nós verdadeiramente representamos.

Dentro da visão Védica, as escrituras sagradas (śastras) nos apontam que a nossa natureza, o Ser, é livre de limitação. O que é limitado pelo tempo e pelo espaço é somente o nosso corpo físico. Uma tradução para a palavra corpo, śarira em sânscrito, é “aquele que está em constante declínio”. Se compreendermos o que ele significa veremos que é imaturo lutar contra esse processo de envelhecimento que é natural.

Mesmo se o corpo não completa todas as suas fases da vida (criança, adulto e idoso) é imaturo desesperarmos pela sua perda, já que o Ser não morre. A Consciência sempre estará presente na forma ou sem a forma.

O sentimento de perda, saudades e tristeza por aquele que se foi é natural, mas não podemos confundir aquela pessoa com o corpo. Essa identificação é equivocada, pois o corpo físico é somente matéria.

Na visão reencarcionista, a sucessão de nascimento, morte e renascimento só se interromperá quando o karma (a lei de causa e efeito) daquela pessoa cessar. Carregamos tendências latentes fruto das nossas ações e pensamentos passados e elas definem o nosso presente e nosso futuro. Portanto, não há como controlar a vida do nosso corpo, já que existe uma ordem que governa a lei do karma.

Se essa vida for única, o que morre é somente a matéria, pois o Ser continua sendo ilimitado pelo tempo e pelo espaço.

Podemos modificar o nosso karma?

Sim, já que o karma não se refere apenas aos resultados das nossas ações. Eles estão diretamente ligado as ações que executamos a todo instante. Ação e resultado da ação (karma-phalam) fazem parte da lei causa-efeito. Assim, podemos modificá-lo através da prática dos Yamas e Niyamas, Karma Yoga, desapego, meditação e mantras.

Portanto, deveríamos procurar viver as nossas vidas a cada instante fazendo o nosso melhor e contribuindo sempre que puder em prol do bem comum. Dentro da imperfeição que todos nós somos, certamente, o surfista Andy Irons concluiu o seu ciclo de vida de uma forma muito significativa para aqueles que amam as ondas. Compreender uma situação como essa é essencial para o processo de amadurecimento que a vida nos coloca.





Que possamos nesses momentos de "perdas" recordar as sábias palavras do prof. Hermógenes e colocá-las em prática: entrega, confia, aceita e agradece!



Aloha e namastê!

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